
- 27 de Fevereiro, 2023
Como esperado, o Banco Central Europeu mantém a pressão sobre a inflação e aumentou, mais uma vez, os juros em meio ponto percentual indicando que os aumentará novamente, com a mesma magnitude em março, de forma a limitar os aumentos dos preços, indicou em comunicado após reunião de
política monetária.
Este é o quinto aumento das taxas de juros na zona euro desde julho de 2022. Em dezembro de 2022, a presidente do BCE, Christine Lagarde, já tinha previsto para fevereiro, um segundo aumento consecutivo de 0.50 pontos. O que não estava previsto era o anúncio de que aumentariam as taxas novamente no mesmo valor, na próxima reunião em março. “Dadas as pressões inflacionista subjacentes, conselho do BCE pretende aumentar novamente as taxas de juros em 50 pontos base na próxima reunião de política
monetária em março”, anunciou o BCE.
Com este aumento nas três principais taxas de juros do Banco Central Europeu, as taxas de operações de refinanciamento, a facilidade de empréstimo marginal e facilidade de depósitos, serão aumentadas para 3%, 3.25% e 2.5%, respetivamente. O aumento acumulado, desde o verão passado ascende a 300 pontos base, um aumento sem precedentes na zona euro que fortaleceu a moeda única face ao dólar.
Preocupação com o aumento dos preços O ano de 2022 ficou marcado por uma subida significativa da inflação devido à guerra na Ucrânia, bem como a subida dos preços da energia. Desde julho de 2022, as taxas de juros aumentaram várias vezes com o objetivo de baixar o nível dos preços, em julho aumentou
50 pontos base, em setembro e outubro 75 pontos, dezembro 50 e novamente em fevereiro de 2023 aumentou mais 50 pontos base. Este aumento excede em muito, a meta que o BCE tinha de 2%.
Por todo o mundo, os bancos centrais estão focados em apertar o cerco monetário. A reserva Federal dos Estados Unidos (FED) decidiu aumentar logo as taxas na primavera do ano passado, sendo o aumento desta quarta-feira, o oitavo aumento consecutivo. O Banco de Inglaterra também seguiu as pisadas do FED, sendo que o Banco do Japão foi um dos últimos a seguir o exemplo procedendo ao aumento das taxas de juros apenas em dezembro.
Na zona euro, a taxa de inflação caiu em janeiro deste ano, pela terceira vez consecutiva, para 8.5% face a 9.2% em dezembro de 2022 e 10.6% em outubro do mesmo ano, atingindo nessa altura o pico. Esta queda acima do esperado pelos economistas, deve-se neste momento, mais à flexibilização dos mercados energéticos do que propriamente às ações do BCE. Se excluirmos energia e produtos alimentícios, podemos verificar que o núcleo da inflação no valor dos 5.2% em janeiro continua alto se compararmos com os 2.6% do mesmo período do ano anterior.
Até onde vai o aumento das taxas de juros Na zona euro, a situação macroeconómica apresenta sinais animadores, o Produto Interno Bruto (PIB) ajustado a variações sazonais aumentou 0.1% em relação ao ano anterior. A melhoria da situação pandémica na China que reabriu a sua economia, o aumento das
cadeias de abastecimento globais e a ajuda pública na zona euro, explicam esta evolução positiva.
No entanto o BCE pede moderação porque surgem novas ameaças como, o aumento do preço das matérias primas e, sobretudo, a perspetiva de aumentos salariais significativos esperados nos países europeus de forma a compensar as perdas de poder de compra. Este aumento na remuneração pode dar a sensação de alívio financeiro e, ao mesmo tempo, alimentar um novo surto de inflação. Portanto, esta resiliência macroeconómica aprimorada dá ao Banco Central Europeu uma maior margem de manobra para prosseguir com a sua política de aperto monetário.
Qual o impacto no crédito habitação
As constantes subidas nas taxas de juros representam automaticamente um aumento bastante significativo no crédito habitação, principalmente, os empréstimos cujo o indexante associado seja a Euribor a 12 meses. Estes aumentos sentidos no encargo mensal e, no espaço de um ano, será o valor extra que vai gastar. Este cenário não é mau só para quem já tem um crédito habitação, famílias que queiram comprar um imóvel também sentem as consequências destas subidas acentuadas nos preços do imobiliário, consequências essas que tornam mais difícil o acesso ao crédito. Quem quiser e puder,
mesmo assim, pedir um empréstimo para compra casa, irá fazê-lo com taxas de juros, sejam elas fixas ou variáveis, mais elevadas.
- Quem já tem crédito deve ter a consciência que à medida que o BCE sobe as taxas de juro, o mercado de crédito reage e fica mais caro. Esta estratégia influencia a subida da Euribor fazendo com que as taxas passem de valores negativos em 2022, para valores positivos somente vistos em 2008. Portanto, quem tem crédito habitação com taxa variável irá verificar um novo aumento na prestação da casa. Este aumento, juntamente com alta inflação registada em Portugal, produz uma
redução nos rendimentos dos portugueses, fazendo com que estes percam poder de compra. - Para quem tem quer comprar um imóvel, o cenário é um pouco diferente do ano anterior, com as taxas variáveis a subir à boleia da Euribor, o mercado hipotecário encontra-se, neste momento, mais caro. No que toca às taxas fixas, estas também estão a aumentar devido à estratégia que os bancos adotaram para adaptar a oferta de taxas fixas à nova realidade. Além dos valores altos, existem outros fatores que tornam difícil o acesso ao crédito habitação. De modo a evitar situações de incumprimento e a segurar o pagamento dos empréstimos, o Banco Central Europeu decidiu apertar os critérios de concessão de novos créditos. Visto que as taxas de juros entram no cálculo para avaliar a taxa de esforço, muitas famílias portuguesas acabam por ver reduzido o valor disponível que os bancos estão autorizados a emprestar.
A realidade é só uma, os juros vão continuar a subir por tempo indeterminado, tornando o mercado de crédito mais dispendioso, portanto, os custos com créditos vão continuar a aumentar. Assim sendo, tente antever o que aí vem para se precaver para o futuro. Reveja o seu contrato e veja se justifica fazer uma renegociação deste com o banco, faça uma revisão de todos os seus encargos, não deixe nada por ver, por muito pequeno que seja, se conseguir reduzir esse encargo, sempre é melhor que nada.