
- 2 de Fevereiro, 2023
Em 2022, algumas tendências inverteram-se devido a vários acontecimentos importantes como a pandemia ou a guerra na Ucrânia. Os últimos meses do ano anterior ficaram marcados pelo aumento constante das taxas de juro, uma tendência notável em 2022 que, certamente, continuará em 2023 dando
continuidade a uma crise económica e ao aumento da inflação.
O ano transato apresentou-se como um ano bastante positivo, mas também muito desafiante. Embora se tenha observado atividade e negócio, a guerra na Ucrânia trouxe um cenário de incerteza no mercado imobiliário. Apesar do aumento das taxas de juros e da inflação, o ano anterior terminou com números bastante interessantes devido a uma procura muito superior à oferta.
Para 2023 é muito provável que se sinta uma desaceleração dos preços das casas, uma possível diminuição na procura pode traduzir-se numa correção de preços.
Consequências da situação económica
Aumento das taxas de juros originou uma queda para um terço, o número de créditos pedidos, em relação ao ano anterior, situação que deve persistir até à estabilização, provavelmente no final de 2023. Este aumento das taxas visa proteger os mutuários contra condições de empréstimos abusivos, reduzindo assim, o acesso a empréstimos e ao investimento imobiliário.
Inflação, perturbações relacionadas com a crise sanitária, a escassez de matérias-primas e a situação geopolítica provocaram um aumento generalizado dos preços. Taxas de inflação superiores a 9% contribuíram para reduzir o poder de compra das famílias portuguesas e, em certa medida, restringir a sua capacidade de endividamento ou atrasar os seus projetos imobiliários.
Perspetivas para o mercado imobiliário em 2023
Alargamento dos prazos – os compradores poderão encontrar novas dificuldades na obtenção de um crédito à habitação que seja necessário para financiar o seu projeto. Alguns irão mobilizar as suas economias para manter um fundo de emergência e aguardar por condições mais favoráveis nos próximos tempos.
Menor número de transações – derivado dos elementos acima referidos, o volume de imóveis vendidos também deverá ser inferior, em comparação com o ano de 2022
Liquidação de preços – alguns vendedores poderão não querer esperar ou ter mesmo de vender a sua propriedade, portanto, existe uma maior inclinação a negociar. No entanto, não é de esperar que a disparidade entre regiões deva desaparecer, mesmo com a queda de preços em Lisboa ou em algumas grandes cidades, é um mercado dinâmico nos setores mais cobiçados.
Portanto, é válido sentir que o setor imobiliário espere globalmente um ano regular e que limpe um mercado que experimentou muitos excessos em termos de preços nos últimos anos.
Os preços das casas vão cair?
As consequências do conflito na Ucrânia, o aumento das taxas de juros e a retoma da inflação não deverão causar um “colapso” no mercado imobiliário em Portugal. No entanto, a mudança de paradigma poderá levar a um necessário reajuste do mercado. A inevitável manutenção da subida das taxas derivada da nova política monetária instaurada pelo BCE (Banco Central Europeu), terá um impacto significativo na capacidade de endividamento dos portugueses resultando num ajuste de preço para baixo.
O que está a acontecer a nível mundial?
Em todo o mundo, pode-se observar uma queda global nos preços das casas, depois do aumento dos preços dos imóveis pós-covid e da forte recuperação da atividade, o mercado está a abrandar em mais de 20% dando agora alguns sinais de alerta. O aperto da política monetária pelos bancos centrais sinalizou o fim do “boom” no preço das casas.
Em vários países já se nota uma retração no mercado. Na Suécia, os preços caíram 14% desde janeiro de 2022, o mesmo ocorre no Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Alemanha. A situação mais grave situa-se na China onde a bolha imobiliária estourou com as vendas a caírem 43% até final do ano passado.
No Reino Unido, a política de “mini-orçamento” teve impacto nas taxas dos empréstimos que saltaram para mais de 6% antes de cai para cerca de 5%. Resultado? A procura caiu 44% e as transações 28%. No mercado britânico, os preços têm vindo a cair nos últimos três meses, o governo espera que esta tendência se mantenha estimando uma queda de 9% até ao final de 2023.
O setor imobiliário global parece estar a caminhar para um ponto de inflexão, conforme indicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no relatório de Estabilidade Financeira em Outubro de 2022. No cenário mais pessimista, o FMI estima uma queda superior a 10% nos países avançados e 25% nos mercados emergentes. Se para alguns países a queda possa parecer leve, outros países como: Austrália, Canadá, Holanda, Suécia e Portugal podem esperar quedas mais substanciais.
No entanto, é expectável que esta tendência de queda possa ser desigual a nível nacional, algumas cidades podem sofrer uma grande queda, enquanto outras mais atraentes, possam até experimentar um crescimento.