
- 28 de Janeiro, 2023
Como é do conhecimento geral, os preços dos imóveis em Portugal dispararam ao longo dos anos. Existem várias razões para esta subida abrupta dos preços: muita procura, taxas de juros baixa (altas agora) situação económica e tendências de renda. Outro fator a ser considerado é a escassez de trabalhadores qualificados. A atual falta de matérias-primas e os preços crescentes destas, lançam “mais lenha para a fogueira”.
Qual o motivo da evolução dos preços das matérias primas ?
Mesmo antes do início da guerra contra Ucrânia, já se verificavam problemas com o aumento massivo dos preços das matérias-primas e a escassez de alguns produtos. A pandemia teve efeitos devastadores na economia mundial, contribuindo para um aumento generalizado dos custos de construção devido ao forte aumento da procura mundial, após um grande período de paragem e expectativa. Mas, neste momento, a situação tem vindo a piorar visto que muitos materiais de construção são fabricados na Ucrânia e na Rússia.
A escassez de produtos leva aos chamados gargalos de entrega que, cada vez mais, vão ficando agravados pelas transportadoras, principalmente pelo transporte preferencial de matérias via marítima onde as companhias de navegação estão a trabalhar no limite das suas capacidades ou mesmo em sobrecarga levando a enormes atrasos nas entregas. Para combater este problema, muitas empresas optam por uma política de compra em grandes quantidades. O objetivo é evitar escassez de matéria-prima na empresa e a consequente redução de trabalho devido a gargalos. Este fator também afeta o mercado e revela uma escassez aguda de matérias, o que eleva o seu preço
Quais as consequências para a construção civil e mercado imobiliário ?
O maior risco é a falta de previsibilidade. Como existe falta de matéria-prima como a madeira, aço, cobre, plásticos e materiais isolantes, as obras, por vezes, ficam paradas e não podem ser concluídas no prazo. Os tempos de construção são cada vez mais longos e, é praticamente impossível manter o orçamento.
O mesmo acontece no lado do investidor devido ao aumento dos preços e á falta de previsibilidade que causam uma pressão de custos significativamente maior.
As margens diminuem e o risco aumenta, pois, os preços não podem ser repassados integralmente ao cliente para os projetos em andamento. Tudo isto leva a uma indecisão por parte dos investidores sobre se vale a pena construir ou comprar o imóvel.
Esta é uma questão que deve ser considerada individualmente em cada caso, daí não existir uma resposta geral para isso. Como referido acima, a escassez de trabalhadores qualificados também leva a um aumento dos tempos de espera e de custos.
Após se realizar o pedido, muitas vezes, é necessário aguardar um tempo porque as agendas da maioria das empresas estão cheias e a sua realização não é possível no prazo previsto. Portanto, se está a pensar em construir ou remodelar uma casa, esteja preparado para longos tempos de espera. Para poder absorver novos aumentos de preços, os custos mais altos de material já estão a ser levados em conta nos projetos.
O que esperar do futuro ?
Quando a indústria sofre, os consumidores também sentem as consequências da escassez de matéria-prima e dos gargalos de abastecimento dos fabricantes, quem passa pelas lojas com atenção ou via online, verá como a escassez destas matérias está a afetar a vida quotidiana. Preços mais altos, falta de mercadorias e longos prazos de entrega são algo que devemos continuar a esperar do futuro.
Mas o que isso significa para o consumo?
No curto-prazo é de esperar também que os investidores e donos de obra optem pelo adiamento de decisões aguardando uma estabilização de mercado, ou em caso extremo, pelo cancelamento das empreitadas. Pode haver também uma renegociação dos orçamentos devido á diminuição das margens das empresas nas empreitadas em curso. Mais tarde, se não houver uma desaceleração dos preços é expectável que haja uma repercussão nos preços de venda ao consumidor final.
Havendo desaceleração, é possível que o impacto no preço final de venda seja pequeno, sendo absorvido pelos intervenientes. Qualquer pessoa que planeie um projeto de construção, deve planear com mais tempo e também levar em consideração os custos mais altos para que não tenha surpresas inesperadas. Alguns especialistas assumem que a situação estabilizará no longo prazo.
No entanto, os proprietários devem contactar os empreiteiros, mesmo que os projetos já estejam em andamento, a fim de encontrar uma solução comum para as próximas etapas, desta forma, podem ser evitados mal-entendidos em relação à estrutura de tempo e custo. Em suma, os preços das matérias-primas agravaram significativamente a situação no mercado imobiliário. Se as reformas ficarem mais caras, os preços das habitações continuarão a subir.
Ao mesmo tempo, o interesse em imóveis continua forte, pois muitos investidores continuam à procura de bons investimentos imobiliários por medo da volatilidade do mercado de ações e preocupações com a inflação.